Medo em 1994

23:48 / Postado por Marlon Brambilla / comentários (1)

Esse post começa com o marlon em estado de choque.
Juro! Olha, se você um dia resolver fazer um vídeo para a posteridade, não dance! Fale coisas sem sentido, conte uma piada ruim, pule corda, rebole num bambolê, cante num karaokê, cuspa fogo, ore, adestre animais, faça mágica, faça filhos, faça silêncio, faça um cabrito levitar, vire purpurina, vire cambalhota, vire de costas e fuja, mas pelo amor de deus NÃO DANCE!
Isso é um conselho sério e necessário. Provavelmente a pessoa que teve essa idéia no infeliz ano de 1994 já foi macumbada por uma guangue de ex-misses revoltadas que são alvo de zombação de seus filhos que hoje se defrontam com suas mães cagando no maiô em rede mundial.
Se você não tem estômago forte, se você já não gostava dos clipes da mara-maravilha, se você costuma ter pesadelos, eu recomendo que não assista.









Comentário pertinente: a Miss Nigéria 1994 é o satanás.

Ovo (realismo fantático - LIP II)

02:03 / Postado por Marlon Brambilla / comentários (0)

Do pouco que tenho a dizer sobre mim, ainda menos é sobre meu corpo. É um corpo normal. Entre normal para bom e normal para ruim, eu diria normal para normal. Corpo. Aglomerado de material orgânico que alcança a altura de um metro e setenta e cinco centímetros, setenta e seis quilogramas, cor pálida, textura macia, consistente, de proporções bem distribuídas e aspecto saudável. No âmbito matéria, é um corpo que não surpreende, mas é também um corpo que não deixa a desejar. Muito do que sou como pessoa tem a ver com o que sou como genética, mas muito do que sou como genética não tem nada a ver com nada.
A manhã começou assim, em uma posição voltada para o espelho e um olhar voltado para mim. A mochila da faculdade deveria ser esvaziada do material inútil, mas eu a enchi com ainda mais do que não precisava, não se trata de uma relação de prazer com o peso, trata-se de uma solidariedade com as coisas vazias.
Pias, copos, caixas velhas, gavetas novas, malas, bolsos, bolsas, vasos, tuppewares. Talvez meu propósito fosse esse, preencher as coisas que precisam ser preenchidas.
O dia decorreu dentro do comum, acelerado e em cenários grandes, de um planeta que me fez miúdo e alheio ao contexto das coisas. Pequeno e vazio, carregava o peso do mundo dentro de uma mochila feliz por sentir-se completa.
Fui ao banheiro, lavei as mãos, destaquei duas folhas de papel da máquina que afirmava uma ser suficiente, joguei no cesto de lixo recém trocado, me senti limpo. A caminhada pelo piso refinado continuou até a noite, num mundo de lâmpadas ligadas por sensores do movimento. Passei, nada. Passo novamente. Nada. Já não bastasse minha própria sala escura e vazia, uma outra mais palpável me confronta com a inexistência, sinto uma palpitação incomum no peito. Ofegante. Ausência de sentido. Breu.

Ser clichê: ambulância, hospital, médico, radiografia.
Ser ser: Há algo de incomum.
Nada: A radiografia não encontrou seu coração, isso é um ovo.

Ovo? Como poderia alguém ter um ovo no lugar de um coração?
O médico pareceu maravilhado, eu permaneci apático. Entre ser e matéria, o ovo estava nos dois.

Sei que se o amor não existisse ele seria criado pelos botadores de ovo.

A receita médica indica repouso e analgésicos. Dentre os conselhos, eu deveria permitir que alguém quebrasse a casca, eu poderia crescer alguns centímetros, talvez unir uns galhos, construir um ninho.

Bacanal

10:31 / Postado por Marlon Brambilla / comentários (1)

Eu estava na aula de produção gráfica, e no dia que alguém decidiu que ninguém mais produziria nada nessa aula que tem "produção" no nome, tudo desandou. Produzo devaneio, produzo tweets, produzo tédio, produzo pão na chapa com polenguinho, produzo piada interna e autosuficiente (eu penso, eu conto, eu ouço, eu acho graça, eu rio, fim).
Parecia uma quarta de manhã comum, não consegui combinar a roupa com o tempo, sentia que esqueci de trazer alguma coisa, era um bad hair day, superdozei meus comprimidos repositores de vitaminas e minerais, matei aula de estatística, estava irritado. Mas eis que entre a foto do fundador da Bauhaus e o tweet da mulher tombada, me deparo com uma verdade escondida. Escondida porque no momento em que ela deveria ter vindo à tona, eu estava concentrado no corpo das fontes dos blocos de texto da capa da Veja. Letras sem serifas, letras com serifas. Who cares?
De volta à verdade.
Abro a internet e a verdade surge com o endereço de www.thebacchanalexperience.blogspot.com. Bacanal experience, quem teve? Tenho na vida essa utopia de que pessoas jovens, modernas e independentes tem vidas felizes com fondue de queijo e vinho aos fins de semana, outono em Paris, amigos atores, amigos em Nova York, amigos budistas, piano em casa, sandálias havaianas em tons pastéis, chaveiros de pano, coqueiros da sala e bacanais.
O meu maior medo poderia ser envelhecer, mas mais que ficar velho, meu medo é ficar antigo.
Interrupção irritante: o professor chamou a atenção para que olhemos para o quadro da Bauhaus onde ele vê um rosto. Alguém avisa? Ele não é moderno, mas ele é feliz. É feliz porque olha para o rosto e ao invés de rugas vê pixels.
Gente moderna que ficou antiga: Erasmo Carlos.
Gente moderna que persiste: Hebe Camargo.

Tudo bem, a Bauhaus é interessante.

Mas e o tempo? O tempo não interessa, o tempo não existe, e o tempo nem tempo é para essa gente moderna dos bacanais. Talvez o bacanal seja a verdadeira fonte da vida. Pessoas malhadas, cabelos descoloridos, champagne, bacanal.

Verdade utopia, verdade inventada, verdade verdade.