R$1

18:29 / Postado por Marlon Brambilla / comentários (1)

Pessoas que só se divertem com muito vão à Disney.
Eu vou ao Hopi Hari.
Se você já foi ao Hopi Hari, entendeu o assunto. Brasileiros suburbanos adoram fila. Fila do banco, fila do INSS, fila do SUS, fila da sopa, fila da distribuição de brindes do Natal, fila na vacinação, fila do McDonald's da 25 de Março, fila do banheiro da rodoviária, fila da merenda, fila das Casas Bahia na queima de estoque, fila do caldeirão do inferno.
Nada contra filas, inclusive, filas são necessárias para manter-se socialmente ativo, fazer novos amigos, expandir a rede de networking, comprar celular com joguinho e, para os mais velhos, é até mesmo uma razão para tomar banho, uma razão de viver.
Filas movem o mundo. Então qual é o problema do Hopi Hari?
O problema do Hopi Hari é que ele não é apenas uma fila de entrada, ele concentra centenas das maiores filas do mundo compostas por gente feia de cabelo descolorido, em baixo de uma sol de 40 graus, suando coletivamente como uma grande e gorda vaca velha.
Agora que todos entendem minha revolta vem a pergunta: R$1?
Quando você pensa em se matar e descobre que no Hopi Hari até para se matar tem uma fila de 120 minutos, esse item de esperança reluz ao troco do refrigerante superfaturado.
Desenvolvi, então, a partir da pergunta "Como irritar as pessoas da fila do Hopi Hari com uma moeda de um real?" uma lista de passatempos que consistem na união da insanidade com uma moeda de um real e influências de Fernanda Young (para pessoas que se divertem com muito pouco).
1. Tire a moeda da orelha e diga pausadamente UAU
2. Troque por 20 moedas de 5 centavos e tente subornar as crianças para deixarem você furar fila
3. Segure alto e corra freneticamente gritando: cofriiiiiiinho
4. Coloque no decote da blusa e balance os peitos dizendo: come to mamma!
5. Esconda a moeda e organize uma caça ao tesouro
6. Mostre com cara de pena e peça ajuda para inteirar o leite das crianças
7. Segure com os dentes, dê uma piscadinha e fale para as tias gordas que você é um solteirão milionário
8. Perca e saia perguntando: você viu meu um real?
9. Coloque na boca, faça cara de prazer e lamba os dedos
10. Reclame da inflação e diga tudo que você comprava com um real em 1996
11. Jogue para cima e grite: muito ouro! ishalá!




Aceitamos mais sugestões, muita fila, muito ouro, ishalá!

Essa foto não é minha

20:47 / Postado por Marlon Brambilla / comentários (0)

Essa foto não é minha. Aliás, essa boca não é minha, essa vida não é minha, essas árvores não são minhas, esse chão não é meu. Acho bom deixar as coisas bem claras, assim, logo de início, para mostrar que apesar de fazer parte da geração da síndrome do pertencimento, não sou dono do mundo, não sou dono de nada e não mando nem nos meus desejos.
O mundo de hoje é assim, pago logo possuo, vivo logo mando, piso logo sujo. Não sei se você me entende, mas você também deve ser assim, meio dono da verdade, meio ariano, meio hebe camargo. Todo mundo é, todo mundo que é referido como chefe gostaria um dia de ser referido como dono. Imagine você: "Jurislayne, o Dr. Abreu é seu chefe?" "Não, o Dr. Abreu é meu dono".

Reli.

Está parecendo que pertencer ao outro, que o outro pertencer a você, que as coisas pertencerem às coisas é uma coisa ruim. Mas agora não sei se penso isso. Pense você, somos em quantos? 6 bilhões? Nem sei, só sei que somos muitos. E se ninguém pertencesse à uma família, uns amigos, um alguém (um certo alguém, assim, coisa de lulu)? A vida seria mais triste, porque laços de pertencimento são, antes de pertencimento, laços. Talvez a definição de solidão seja a liberdade em relação ao outro, estar só como ato de abrir mão dos donos. Ser dono. Dono de um sentimento que está para a ausência assim como a distância está para a saudade. Dono único, mas por isso dono de nada.

Essa foto não é minha, mas eu sou dono de muita coisa, inclusive da verdade. Meu ascendente é áries. Sou da geração do pertencimento. Estou pagando caro pela vida.
Terry richardson é dono dos pixels. Eu sou apenas dono do real.

Beijo,
Beijo,
Beijo.

Réquiem

21:33 / Postado por Marlon Brambilla / comentários (0)

Missa especial por intenção da alma de um morto; Música para essa missa; Repouso.
Eu passei a tarde toda cavando um buraco, nem percebi, só sei que quando me dei conta ele estava lá. Nós estávamos lá, eu e o buraco, olhando um para o outro. Eu, com toda a luz dos meus olhos, e ele, com toda a sua escuridão. O buraco é um pedaço do mundo que a luz não chega e, portanto, é oculto, ninguém vê o fundo, ninguém quer exatamente entrar, não se faz todo dia uma visita ao seu buraco, porque visitar o buraco é visitar a si mesmo. Quando a gente não vê o que está fora só nos resta ver o que está dentro. Olhar o buraco de dentro do buraco é olhar para a alma. Mas eu não estou olhando para mim, eu estou olhando para o buraco. Porque hoje é não o dia do auto-conhecimento. Hoje o buraco está aqui a atender outra necessidade.
É preciso enterrar algo.
Tem quem enterre as vontades. Hoje eu enterro uma verdade.
Eu não estou mentindo para os outros, eu estou apenas mentindo para mim.
Mato uma verdade e colho uma vontade.
Instinto.
Desejo.
Pulsão.
Pulsão.
Pulsão.
Missa especial por intenção da alma de um morto.
Música para essa missa.
Repouso.

Acenda uma vela

00:55 / Postado por Marlon Brambilla / comentários (0)

Isso mesmo, pegue uma vela e um fósforo. Acenda. Blogs juvenis de nome pessoal estão fadados ao fracasso. Por isso minto a idade e oculto o primeiro nome, talvez isso se assemelhe mais a uma marca (ou não). O desafio de um blog é manter um conteúdo interessante, é manter um conteúdo atualizado. Ter um blog é ter um desafio na vida. Não que eu queira inúmeros leitores, aliás, se for para querer alguma coisa eu quero jogar fora meus armários e ter louça descartável e ecológica. Odeio lavar pratos mas também não quero conviver com a culpa de estar destruindo esse planeta que nem meu é. Gostaria inclusive de aproveitar a oportunidade para você que é ou conhece alguém que goste de enxaguar copos e esfregar panelas (essa gente existe, graças a deus) e oferecer uma linda pilha de tuppewares verdes e muito charmosas a serem lavadas em troca de um abraço carinhoso. Interessados mandar e-mail. E não esqueça da vela, do blog e do planeta.