Essa foto não é minha

20:47 / Postado por Marlon Brambilla /

Essa foto não é minha. Aliás, essa boca não é minha, essa vida não é minha, essas árvores não são minhas, esse chão não é meu. Acho bom deixar as coisas bem claras, assim, logo de início, para mostrar que apesar de fazer parte da geração da síndrome do pertencimento, não sou dono do mundo, não sou dono de nada e não mando nem nos meus desejos.
O mundo de hoje é assim, pago logo possuo, vivo logo mando, piso logo sujo. Não sei se você me entende, mas você também deve ser assim, meio dono da verdade, meio ariano, meio hebe camargo. Todo mundo é, todo mundo que é referido como chefe gostaria um dia de ser referido como dono. Imagine você: "Jurislayne, o Dr. Abreu é seu chefe?" "Não, o Dr. Abreu é meu dono".

Reli.

Está parecendo que pertencer ao outro, que o outro pertencer a você, que as coisas pertencerem às coisas é uma coisa ruim. Mas agora não sei se penso isso. Pense você, somos em quantos? 6 bilhões? Nem sei, só sei que somos muitos. E se ninguém pertencesse à uma família, uns amigos, um alguém (um certo alguém, assim, coisa de lulu)? A vida seria mais triste, porque laços de pertencimento são, antes de pertencimento, laços. Talvez a definição de solidão seja a liberdade em relação ao outro, estar só como ato de abrir mão dos donos. Ser dono. Dono de um sentimento que está para a ausência assim como a distância está para a saudade. Dono único, mas por isso dono de nada.

Essa foto não é minha, mas eu sou dono de muita coisa, inclusive da verdade. Meu ascendente é áries. Sou da geração do pertencimento. Estou pagando caro pela vida.
Terry richardson é dono dos pixels. Eu sou apenas dono do real.

Beijo,
Beijo,
Beijo.

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